Muito se tem falado no significado da Qualidade ou Qualidades em Educação,
especialmente no momento em que os resultados do Índice de Desenvolvimento da
Educação Básica foram amplamente divulgados pela
mídia onde tanto o Paraná como o Brasil cresceram em desempenho. No entanto, é
importante pontuar, que a fórmula que quantifica este resultado é obtida a partir de
indicadores como o desempenho na Prova Brasil (aprendizagem), taxas de evasão e
repetência da unidade escolar.
O entendimento de qualidade difere de forma limitada ou ampliada, de acordo
com as concepções de escola, mundo e sociedade de quem analisa. Ouso dizer,
que qualidade em educação é algo a ser buscado com persistência perene e é muito
mais complexo do que os indicadores eleitos pelo IDEB.
Para ir ao encontro do que
afirmo foi necessário realizar uma pesquisa exploratória, com sujeitos de diferentes
segmentos que compõem a comunidade escolar.
Nesse artigo, procurei analisar as representações de Escola, e a seguir fazer
um diálogo com autores que fundamentam a origem dos aspectos mais relevantes
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configurados nas respostas dos envolvidos: a comunidade local, estudantes,
professores, gestores e funcionários, de uma instituição pública que atende filhos de
trabalhadores de um dos bairros mais populosos da periferia de Curitiba, no Estado
do Paraná. Nela, está matriculado um universo de aproximadamente hum mil e
duzentos alunos, nos turnos matutino e vespertino, que oferta ensino Médio e
Fundamental a partir da quinta série.
Está inserida no macro contexto da sociedade
contemporânea capitalista de uma economia internacionalizada, que exige da escola
algumas demandas específicas como à formação de alunos com capacidade de
fazer uso do conhecimento científico de todas as áreas, para solucionar problemas
de modo criativo, exigindo novas competências e invadindo a escola com novos
princípios.
As respostas foram categorizadas, sendo ouvidos cerca de sessenta pais ou
responsáveis dentre eles representantes da sociedade civil organizada, trinta
professores incluindo neles, três pedagogos e um diretor, aproximadamente cento e
vinte alunos e dez funcionários. Foram feitas perguntas a respeito das
representações que cada segmento possui da Escola.
Para os gestores, há clareza
de que para se alcançar qualidade em educação, é preciso estar permanentemente
considerando os diferentes fatores sociais, econômicos, políticos, religiosos e
étnicos que impactam diretamente nas propostas do fazer pedagógico. No que se
refere à família, cerca de cinqüenta entrevistados disseram que os pais esperam que
a Escola seja eficiente e competente para que seus filhos tenham uma vida com
mais oportunidades. Em suas falas, dizem que esperam que os filhos, através do
estudo, “tenham mais sorte na vida do que eles próprios tiveram”. Dependendo do
valor que dão à escola, também podem influenciar no sentido de incentivar, valorizar
e respeitar ou não, a escola e o processo de escolarização.
Dez pais expressaram a
expectativa de que a escola possa preparar seus filhos para passar no vestibular de
Universidades Públicas. Ao se dar voz ao estudante, nas entrevistas, foi
surpreendente conhecer suas expectativas em relação à Escola e constatar que os
jovens expressam que a escola é um lugar para encontrar os amigos, formar e
pertencer a grupos, exercer liderança, namorar, ficar em segurança. Relatam que
praticar esportes, fazer uso de substâncias proibidas referindo-se através da
colocação “tomar um tubão no bosque é legal” e também buscar a certificação estão
entre suas aspirações. Poucos se preocupam em realmente buscar o conhecimento
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e dão a ele o devido valor. Os dados dos alunos foram obtidos em conversas
informais, cujos relatos, foram colhidos em situações do cotidiano escolar.
Nesses relatos, um significativo número de estudantes expressou seu descaso com
o estudo, afirmando freqüentar a escola só para conseguir certificação e que “muitas
pessoas que se deram bem na vida”, mesmo sem terem estudado têm o próprio
negócio e ganham mais que muitos “estudados”.
Também, entre os entrevistados,
sessenta estudantes disseram que freqüentam a escola para encontrar seus amigos
ou grupos, dizendo que “a escola é o melhor lugar para encontrar a galera”.
A sociedade, de modo geral, espera receber jovens, que saibam ler e
escrever e entendam de matemática o suficiente para desempenhar bem as funções
exigidas pelo emprego ou estágio sendo que algumas famílias aspiram para seus
filhos o ingresso em universidades públicas. Isso pode ser constatado em
afirmações como “quero que meu filho estude, pois só assim poderá conseguir um
bom emprego” ou “meu sonho é ver meu filho na universidade federal”.
De acordo com o depoimento, para vinte e cinco dos professores ouvidos, a
escola tem assumido inúmeras funções, de caráter assistencialista, deixando de
cumprir sua principal função de ensinar e de fazer isso com competência. Inúmeros
estudantes chegam à Escola com poucos valores básicos primários, que deveriam
ser dados pelas famílias.
Muitas vezes, têm problemas variados decorrentes de pais
permissivos, que delegam o que podem à escola, no que diz respeito à educação,
saúde, lazer, negligenciando o acompanhamento acadêmico dos filhos, importandose apenas com o resultado final, no término do ano letivo. Os professores declaram
nas suas falas que “os pais só aparecem no final do ano, mesmo chamados no
decorrer, não valorizam o processo de aprendizagem, querem apenas saber como
os filhos irão conseguir as notas e não perder o ano”.
Então, na visão dos professores, para se alcançar à almejada qualidade é
preciso contar com o envolvimento e apoio das famílias, melhoria das condições de
trabalho, apontadas tanto para estrutura física como do apoio da estrutura
pedagógica, direção e instituições parceiras.
Dos professores entrevistados, quinze entendem que a formação continuada,
em serviço, é essencial para o aprimoramento da formação inicial. A capacitação em
serviço, para uso do laboratório de informática e produção de software para as
aulas, acesso a livros didáticos, literatura e de educação a preços razoáveis, tanto
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para os alunos como para os professores, são desejáveis, e poderão melhorar a
qualidade do ensino, de acordo com os professores ouvidos.
Uma questão que parece angustiar os professores, na busca da qualidade, é
o número excessivo de alunos nas turmas e o recebimento de alunos com
necessidades educacionais diferenciadas. Essas necessidades além de físicas são
pedagógicas. Neste particular, os professores não são contrários à inclusão dos
chamados diferentes e sim à desvinculação desses estudantes das Escolas
Especiais, altamente preparadas para trabalhar especificamente com cada
necessidade. Entendem que não é possível deixar exclusivamente para o Ensino
Regular, a responsabilidade de ensinar e bem esses estudantes.
Em nome desta
inclusão, segundo os professores, nunca se excluíram tantos como agora. Para a
maioria, há o entendimento que todos têm direito ao Ensino Regular. No entanto,
para os que têm necessidades educacionais diferenciadas é preciso garantir escolas
em tempo integral, sendo um período com atendimento em escola especializada e
outro na escola regular, porém com redução de alunos nas turmas e o devido
assessoramento para professores que têm alunos de inclusão em turmas regulares.
As Equipes multidisciplinares dando suporte aos professores, com estudantes
cujas dificuldades de aprendizagem, vão além do que os professores ou a Escola
dão conta de resolver como, por exemplo, aqueles que necessitam de atendimentos
especializados na área de saúde física, psicológica, psiquiátrica ou em situação de
risco e negligência.
Com estas ações, segundo os professores, seria possível propiciar aos
estudantes com necessidades educacionais diferenciadas, não só a socialização
como também, ensino de qualidade.
Os funcionários têm nas suas representações de escola, uma idéia de que a
qualidade é tanto melhor quanto mais austeridade houver por parte da direção e
pedagogos, que apareceram nas seguintes verbalizações: “a direção e pedagogos
deveriam expulsar, suspender, transferir os alunos mal-educados”, vendo nos
gestores o poder de aplicar sansões mais rígidas às manifestações dos alunos
nomeados por eles como indisciplinados.
Denise Ulir Calliari.
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