As autoridades sanitárias do país ganharam nos últimos dias mais um motivo para redobrar o rigor com que acompanham manipuladores de medicamentos ( na verdade fiscalizar o que raramente é fiscalizado!).
Ninguém desconhece o potencial de negócios que representa o consumo de remédios. Basta pensar na infinidade de males e carências que podem afetar as pessoas, de verminoses a doenças, de avitaminoses a insônias, de obesidade a fraturas acidentais, o campo explorado pela manipulação de quimioterápicos é tão amplo que fez da indústria farmacêutica mundial um dos mais poderosos segmentos do capitalismo moderno. Não é à toa que muita gente se sente atraída e acaba se aventurando nesse ramo, ainda que disponha de pouco capital e limitado conhecimento científico.
O problema é que, enquanto nos demais setores da indústria os produtos de qualidade inferior ou de preços incompatíveis com o mercado são eliminados em pouco tempo pela concorrência, defeitos de fábrica, no caso dos remédios, não causam só decepção e prejuízos ao consumidor. Em muitos casos, podem levá-lo à morte.
É o que vem ocorrendo em Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri/MG. Reportagens vêm relatando desde segunda-feira uma sequência de mortes (até ontem eram nove) que as investigações estão perto de comprovar que foram causadas por falha na manipulação do vermífugo Secnidazol 500mg. O caso de uma senhora de 81 anos, Madalena Barbosa de Souza, morta em 23 de novembro, é exemplar. Ela tomou dois comprimidos do medicamento para tratar de vermes, mas a suspeita é de que o princípio tinha sido trocado por um usado em remédios para combater pressão alta. Sob o efeito de inesperado anti-hipertensivo, ela não resistiu a essa provável falha na manipulação pela Fórmula Pharma.
A empresa já foi fechada pela polícia e por agentes da Vigilância Sanitária, mas não se pode garantir que mais pessoas já foram ou serão ainda afetadas pela manipulação irresponsável de produtos que tanto aliviam, salvam, quanto matam.
O caso Fórmula Pharma de Teófilo Otoni não é o primeiro e muito menos o único. A história dos fabricantes de remédios no Brasil é longa e de triste memória. Ele precisa ser minuciosamente apurado para ser amplamente conhecido e severamente punido. Nesse sentido, é bom lembrar – para evitar que se repita – a mais manjada saída que os responsáveis por esse tipo de malfeito usam para se safar, muitas vezes com sucesso: “Foi sabotagem de funcionários ou de inimigos”. No caso, uma lista de clientes que compraram o remédio, descoberta ontem entre os documentos e material apreendidos na empresa, não pode ser desprezada, com o propósito de, mais do que mandar o responsável para a cadeia, instruir processo de indenização às famílias das vítimas. Resta ainda mais um ponto a ser lembrado, a partir da Fórmula Pharma: melhor que punir e obrigar a indenizar, certamente será reestruturar e intensificar a fiscalização. É preciso impedir que qualquer um coloque à venda, sob o rótulo de medicamento, o perigoso resultado da sua falta de seriedade.
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