Itamaraty torra dinheiro público em palestras de Lula no exterior. Ex-presidente cobra até R$ 200 mil de "cachê" de empreiteiras.
O governo brasileiro também teve gastos com as viagens privadas ao exterior feitas pelo ex-presidente Lula. Ontem, a Folha
revelou que 13 de suas 30 viagens ao exterior após sair do cargo foram
bancadas por empreiteiras com interesses nos países visitados, conforme
telegramas obtidos via Itamaraty. Em parte dessas viagens, Lula recebeu
apoio de embaixadas, por meio de funcionários locais ou diplomatas
enviados do Brasil para acompanhá-lo. Há também pagamento de almoços e
aluguéis de material para a comitiva.
Segundo advogados e procuradores da República, gastos não previstos na
legislação podem gerar ações para ressarcir os cofres públicos. A lei
que trata dos direitos de ex-presidentes não prevê apoio diferenciado no
exterior -como no Brasil, são previstos oito assessores pagos pelo
governo, como seguranças e motoristas. Mas a tradição diplomática
costuma considerar isso uma cortesia.
Em algumas viagens de Lula ao exterior, o Itamaraty designou diplomatas
do alto escalão para acompanhá-lo. Foi o que ocorreu em viagem de Lula a
Moçambique e África do Sul, em 2012, quando o embaixador Paulo
Cordeiro, subsecretário-geral para África e Oriente Médio, foi o
encarregado da tarefa. O deslocamento de Lula foi bancado pela Camargo
Corrêa. De acordo com documento da embaixada, Lula ajudou as
empreiteiras ao "associar seu prestígio" a elas.
Além disso, o embaixador brasileiro em Pretória solicitou recursos para
enviar um diplomata e uma auxiliar administrativa para a vila onde Lula
teria encontro com o ex-presidente Nelson Mandela.O encontro foi
cancelado devido à saúde debilitada do sul-africano, mas o custo com
passagens da auxiliar administrativa (US$ 586,71) foi desembolsado. O
cancelamento do encontro ocorreu após a funcionária embarcar.
Em outras ocasiões, os diplomatas pedem recursos para participar dos
eventos privados de Lula. Em agosto de 2011, o embaixador brasileiro em
La Paz, Marcel Biato, solicitou "passagens aéreas e diárias
correspondentes" para acompanhar evento de Lula, patrocinado pela OAS,
em Santa Cruz de La Sierra.
Há também casos de gastos com aluguéis e alimentação. Em 15 de março de
2011, a Embaixada do Brasil em Doha (Qatar) solicitou que o Itamaraty
liberasse US$ 330,58 para pagar pelo aluguel de um computador e uma
impressora no "aposento do ex-presidente Lula, no Sheraton Hotel". A
viagem era privada, para participar de fórum da rede de TV Al Jazeera. Três
dias antes, a embaixada havia solicitado outros US$ 685,95 para "quitar
gastos extraordinários com cerimonial": um almoço no Nobles
Restaurante, um dos mais badalados do país, para Lula e acompanhantes.
"A verba atual é suficiente apenas para pagar as despesas ordinárias e
recorrentes do posto", escreveu a Brasília o embaixador Anuar Nahes,
hoje titular em Bagdá. Meses antes, as embaixadas haviam recebido ordem
para cortar gastos, no começo da gestão Dilma Rousseff.
Alguns postos solicitam o pagamento de horas extras para funcionários
devido à agenda de Lula no país. É o caso da Embaixada na Polônia, que
pediu pagamento adicional ao motorista do posto em setembro de 2011. O
funcionário levou o embaixador Carlos Magalhães de Varsóvia a Gdansk,
onde Lula receberia um prêmio. (Folha de São Paulo)
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