Seja na montagem de sua equipe, seja em manifestações públicas, a presidente eleita já demonstra de que haverá rompimentos com o jeito Lula de governar. Com Brizola começou assim... |
Depois de passar dias recolhida para evitar a exposição e sobrepor-se ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a presidente eleita Dilma Rousseff dá as caras para revelar o tom de seu governo. Em pelo menos cinco temas —segurança pública, política externa, ajuste fiscal, aumento para servidores e composição das agências reguladoras— a petista mostra que tem significativas discordâncias com o mentor.
Dilma escolheu não dar entrevistas ou participar de eventos públicos neste período de transição e delegar atribuições — apesar de controlar com lupa toda movimentação dos assessores. A montagem da linha mestra do governo que assume em janeiro, no entanto, caminha por rumos divergentes. Não é só em relação ao Irã que a presidente eleita quer alterar a orientação do Itamaraty. A reorganização passa por todo o Oriente Médio. A meta é trazer países para o diálogo e não afastá-los, como foi feito em relação à Líbia no início do primeiro mandato do presidente Lula.
Passa por novos gestos em direção a Israel, ao governo da Autoridade Palestina, incluindo o braço político do Hamas, a organização militante que controla a Faixa de Gaza. Também caminha ao lado de uma reaproximação com os Estados Unidos, para atuar como parceiro no palco internacional, e não como desafiante. Haverá uma nova investida em cima da Europa, usando a França, do presidente Nicolas Sarkozy, como interlocutor, e ainda uma aproximação maior com a Alemanha, da chanceler Angela Merkel. Essas serão as missões iniciais do novo ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, a partir de sua confirmação, que deve ocorrer ainda nesta semana.
Em segurança pública, o mandato do próximo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, tem como prioridade o pacto entre os governadores e implementar na esfera nacional uma convergência nas áreas de inteligência, tanto da Polícia Federal quanto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), com foco na repressão ao crime organizado, na lavagem de dinheiro, no monitoramento da fronteira e numa atenção especial às potenciais células terroristas na região em que se encontram Brasil, Argentina e Paraguai.
A única convergência com o presidente Lula nesse quesito é o estímulo da relação Sul-Sul, que contribuiu para um maior destaque do país na comunidade internacional. O que não faltará é gás para o sucesso da parceria com África do Sul, Rússia, China e Índia, além da política de boa vizinhança com os países sul-americanos.
TÉCNICOS - Para o público interno, Dilma pretende comprar brigas e renegar a orientação de quem a trouxe para a política nacional. Os cargos das agências reguladoras não estão entrando no bolo da negociação com os partidos. Serão escolhas pessoais de nomes qualificados com experiência comprovada na área. Ela terá direito a indicar 14 postos a partir do ano que vem O que se especula é que com técnicos, e não políticos, as agências atuarão de maneira mais afinada em relação ao Palácio do Planalto.
No governo Lula, esses órgãos foram usados para atender aos anseios das legendas aliadas. Por exemplo, quem comanda a Agência Nacional do Petróleo, repleta de indicações do PMDB, é Haroldo Lima (PCdoB), cujo mandato termina em dezembro de 2011. A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) tem apadrinhados de senadores do PMDB. Até o governador eleito do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), foi diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
As guinadas na área econômica já foram explicitadas, mas podem ser ainda mais profundas do que aquelas anunciadas na nomeação do ministro da Fazenda, Guido Mantega. Agora, o corte nos investimentos para reorganizar as contas públicas pode afetar até a principal bandeira eleitoral e menina dos olhos de Dilma: o Programa de Aceleração do Crescimento, como revelou o titular da Fazenda. Estão com os dias contados os gordos aumentos do funcionalismo também sob o argumento de que é preciso arrumar os cofres públicos.
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