Criado em 1998 para ser um instrumento de avaliação do ensino médio, hoje o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem de longe!) funciona como porta de entrada para milhares de bolsas de estudo em instituições privadas de ensino superior, distribuídas por meio do Programa Universidade para Todos (ProUni valha-me Deus!), e para as vagas de dezenas de universidades federais, por meio dos próprios processos de seleção e programa de vagas nas federais, o Sistema de Seleção Unificada (Sisu putz!). Mesmo antes de o ministro Fernando Haddad esculhambar tudo, um número crescente de universidades vem adotando o Enem como parte do seu vestibular, o que torna crível a ideia de que o exame vai se tornar ainda mais importante, substituindo definitivamente o vestibular tradicional.
Não se trata de maquiagem, pirotecnia ou de modismos didáticos. O momento atual apresenta mudanças profundas na concepção de acesso ao ensino superior, tanto no que diz respeito ao modelo pedagógico adotado quanto aos desdobramentos sociais decorrentes. Não se trata apenas das questões logísticas, como muitos ficam tentados a crer. Aplicar simultaneamente (e sem quebra de sigilo, de preferência!) um exame nacional em um país de dimensões continentais, sem dúvida é um desafio complexo, mas a análise dos impactos disso para o perfil dos estudantes beneficiados (ou não) pelo novo processo me parece bem mais urgente.
É crucial que, em primeiro lugar, fique bem claro que tornar nacional o ranqueamento dos estudantes do país não apenas não reduz as distorções sociais do facista vestibular (decorrentes principalmente da disparidade entre o desempenho médio dos oriundos do ensino público e do privado) como traz à tona a questão das desigualdades regionais. Alunos bem classificados que não obtiveram nota suficiente para ocupar uma vaga nos melhores cursos de sua cidade ou estado podem pleitear uma vaga em qualquer local do país com um simples clique. É uma questão fortemente influenciada pela capacidade econômica da família.
O fenômeno da autoexclusão, que grosso modo poderia ser resumidamente descrito como a não inscrição voluntária de estudantes por um processo de autoinferiorização, seja por se considerarem sem possibilidades de ingressar na faculdade, manter-se nela ou ainda por entenderem que não vale a pena o esforço acadêmico em suas realidades sociais, também precisa ser considerado. A modificação do caráter voluntário para compulsório, a exemplo do que já ocorre no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade, outro cruz-credo!), poderia ser um caminho, especialmente para os alunos das escolas públicas, que não pagam pela inscrição. A questão da permanência é um grande desafio para as políticas de assistência estudantil. Não é mais possível ignorar o paradoxo histórico dos vestibulares, onde uma grande maioria de candidatos oriundos das escolas públicas ocupava uma ínfima parcela das vagas, notadamente nos cursos mais concorridos. A exemplo do que já fizeram UFMG e Universidade do Estado de São Paulo (USP), é preciso que, ao considerar as notas do Enem, se lance mão de bônus ou de outros mecanismos que possibilitem equalizar a disputa, tornando-a mais justa, pois os desiguais não podem ser tratados igualmente. Importante é investir em educação pública de qualidade e com resultados, o que promove a mobilidade social e possibilita não apenas a disputa, em igualdade de condições, de qualquer processo seletivo, mas abre perspectivas de vida mais justamente distribuídas.
Olá Eduardo, achei o seu blog pois acompanho o site da Cidinha Campos. Morava no RJ (Seropédica-UFRRJ) há 5 anos e agora sou professor de Educação Física aqui do Estado de SP. Decidi comentar, para te dar uma luz do que acontece nas escolas hoje, e se assim pode-se dizer da maior metrópole do país (muito recurso por aqui, mas não chega). Dou aulas para o Ensino fundamental e Médio, e pasme, tenho alunos (na realidade a maioria) que não sabem ler, pode acreditar. O governo manda impressoras lazer, mas não manda toner, me dá duas bolas para dar aulas, mas faz uma revistinha que deve ser seguida por todos (quem será que fabrica a tal revista ,não?), uma quadra para 3 turmas com aula ao mesmo tempo. Será que é para funcionar?(é o que sempre digo aos colegas professores). E, não quero esculachar, mas a maioria dos professores por aqui é do interior de SP, que não conseguiram trabalho onde moram e vem para cá (capital ou perto) para ganhar a vida. Aqui Eduardo um frentista chega a ganhar 1.200,00 se fizer hora extra e o salário de um professor é de 1.500,00. Esse é o motivo pelo qual as pessoas por aqui na capital ou próximo a ela não querem mais dar aulas, o salário está uma vergonha!!! Estou lentamente saindo da escola pois fiz uma pós graduação em acupuntura e se quer saber (por exemplo) este mês tirei mais do que o meu salário no estado, trabalhando 1/5 do tempo que trabalho no estado......espero em breve não precisar mais dar aulas. E outra coisa que deixa a escola DOIDA!!! É quando um aluno faz bagunça na escola e os pais são chamados, pasmem......os pais vão lá na escola e ainda dão razão aos filhos, é mole?!?!?! Fica fácil entender, pois aqui saem o pai e mãe para trabalhar, quando voltam do trabalho apenas "mimam" os pestes ao invés de educar(Aliás o professor se ferrou quando inventaram um novo nome para ele....Educador.....agora querem que o professor eduque e ensine conhecimentos....assim não dá!!!!!!.
ResponderExcluirEsqueci de comentar, me desculpe.....O professor do interior, como disse, são os que são formados em sua maioria pela "PROGRESÃO CONTINUADA", ISSO, AQUELA QUE DEIXA OS ALUNOS ANALFABETOS, E OS PROFESSORES então???. Hoje Eduardo temos professores na sala de aula que já são frutos da progressão continuada, falam errado o tempo todo na sala de professores, o que dirá em sala de aula. Se quiser gravo para você ouvir, os "nós vai", "nós qué" e "nós foi" .....é muito triste mas a educação já afundou faz tempo!!!!!!
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